O projeto Caixa vazada era, originalmente, um experimento na área de escrita criativa (para detalhes, consulte aba projeto original). Para socializar o projeto, adotamos como estratégia a produção de conteúdos para o youtube. Nesta sessão estão as publicações mais recentes do canal Caixa vazada
Este site está dedicado à divulgação de um um livro subdividido em 3 volumes, intitulado Caixa vazada. Sua produção implicou um grande esforço de pesquisa conceitual, textual e de elementos visuais, com destaque para a fotografia. Nas abas do site é possível encontrar o acervo utilizado para a produção dos volumes. Abaixo, os detalhes da documentação do projeto.
LIVRO (visualização e download)
Volume 1
Uma cartografia afetiva da modernidade
Volume 2
Cartoteca: imagens de pensamento
Volume 3
Algumas questões propostas pela fotografia
Caixa vazada - apontamentos (1)
Caixa vazada - apontamentos (2)
O livro Caixa Vazada deve ser compreendido como um dispositivo construído para pensar criticamente a contemporaneidade.
É uma máquina que funciona expondo o leitor a uma infinidade de fragmentos, todos e cada um deles atuando como pequeno elemento colorido, de uma espécie de caleidoscópio.
Não se procura oferecer a quem lê uma verdade, certezas, afirmações dogmáticas. Os fragmentos do livro têm um valor de exposição e, ao se articularem, criam trajetos para o pensamento, possibilidades de compreensão, sem jamais esgotar os temas abordados.
O esforço de compor o livro não se deve, portanto, propriamente ao ato de escrever, como normalmente o entendemos, visto que quase nada há de "autoria" aqui.
A rigor, se apresenta ao leitor centenas de citações e, de resto, praticamente invisível, a tarefa de costurar pedaços, de articular peças, de instaurar proximidades.
Trata-se sempre, contudo, de vizinhanças entre fragmentos, de textos com textos, de textos e imagens, de imagens entre si. Nenhum elemento explica o outro, mas curiosamente se deixam alcançar por uma força gravitacional, que os faz estarem próximos.
A quase totalidade das fotos foi obtida na internet e não foi recenseada quanto a seus autores. “Expropriei” as imagens, porque elas não aparecem no livro por sua monumentalidade artística ou singularidade. São, sempre, expressões de afetos, independentemente de seu valor enquanto obra de arte.
Os livros, em geral, são entendidos como objetos literários, científicos etc. Seriam, nestes termos, repositórios de experiências estéticas, do conhecimento técnico-científico; narrativas de distintas ordens e perspectivas.
O agente dessas obras são autores individuais ou coletivos, que transmitem "livrescamente" algo a seus leitores.
Obviamente não há nada de errado nessa concepção, mas ela toma por elemento fundamental a escritura, o ato de escrever, reduzindo a leitura – seu anverso – a uma certa ordem de passividade.
Temos, então, quem escreve como polo ativo e criativo da relação, ao passo que os leitores são elementos relativamente "passivos", nos quais e sobre os quais se grava uma experiência e/ou conhecimento.
É justo observar, contudo, que a leitura também é uma atividade criativa, que reconcebe a a obra de partida e a inscreve, irremediavelmente, em um ciclo infinito de suas diferenciações.
Apenas na leitura existe uma obra viva, que é oxigenada, atualizada, arruinada como monumento e reconstruída ininterruptamente.
O que se empreende por meio de Caixa Vazada, em conformidade com a concepção de uma leitura ativa, é um procedimento tecnológico em sentido estrito.
Este livro se compõe integralmente de leituras, ou seja, da apropriação de textos por meio de resenhas, citações, transcrições de falas; de fragmentos textuais escritos com a finalidade de desenvolver ideias e conceitos, baseados todos em uma infinidade de autores.
Nada há, portanto, de verdadeiramente original, e nem mesmo a "devoção" aos originais, na expectativa da correção interpretativa, da fidedignidade, de produção de verdades verdadeiras.
Tudo quanto é abordado ou alcançado é imediatamente inscrito na ordem de provisório, na linha delgada do indiscernível, na falibilidade das cópias imperfeitas, das leituras que podem [e devem] estar "equivocadas.
Caixa vazada, ao privilegiar a leitura como ato criativo essencial, ao tomar por método de composição a articulação rizomática de fragmentos; por se instalar no território movediço do rearranjo permanente de todo o material de que se utiliza pretende ser um dispositivo tecnológico de aprendizagem. Quem sabe o dispositivo funciona?
A sorte está lançada!
Seguem alguns exemplos da produção cotidiana mantida pelo projeto Caixa vazada, em complemento à atividade de escrita propriamente dita, detalhada na sessão anterior e contida nos livros nela mencionados.
O episódio introduz os conceitos de imunização e hibridação, relacionados respectivamente às filosofias de Roberto Esposito e Donna Haraway, que são exemplificados com base em matérias jornalísticas do portal Deutsche Welle:
1) Ala jovem da AfD impulsiona radicalização do partido
2) Cientistas no Japão criam porcos para transplante em humanos
O episódio trata da animosidade crescente que se demonstra em relação a migrantes, especialmente no mundo desenvolvido, o que gera inclusive ações de governos, que serão rotuladas pelo canal como políticas da inimizade. São exemplos desta situação as seguintes matérias
Fan page - ONU: "Un quarto della popolazione di Gaza è a un passo dalla morte per fame". Attacco israeliano a Jenin (link)
The Guardian - Israel is deliberately starving Palestinians, UN rights expert says (link)
Le Monde - Après le naufrage d’un navire avec 650 migrants à bord en Méditerranée, l’agence Frontex n’avait pas diffusé de signal de détresse pour hâter les secours (link)
El País - Los republicanos de Arizona proponen legalizar el asesinato de inmigrantes que pasen por sus ranchos (link)
O podcast parte de um caso concreto -- de uma jovem que ao realizar um procedimento estético, acabou por ter uma lesão na paste superior da boca, que levou à extirpação de seu lábio e buço -- para pensar a plasticidade do corpo e atributos como hibridação, pós-humano, ciborgues etc. A matéria utilizada para fazer o podcast pode ser encontrada no link
No podcast analiso o anúncio do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, do planejamento de incursões na cidade de Rafah com o objetivo de eliminar por completo as infraestruturas do Hamas na faixa de Gaza. O episódio foi desenvolvido com base em duas matérias jornalísticas, a saber:
1) Fan page, periódico italiano
2) DW, portal noticioso alemão.
Pequena avaliação da situação de momento, relativa à conjuntura da guerra Israel - Hamas e resoluções que tramitam junto ao Conselho de Segurança da ONU.
Para saber +
Entenda a origem do Hamas, grupo islâmico palestino que controla Gaza
IAN HOWORTH (o ofício das cores)
Howorth criou uma série de imagens estáticas e calmas que visam manter o que aparentemente se tornará uma relíquia do passado em breve. Sua linguagem visual é palpável e digerível, pois lembra os mestres da cor das décadas de 1970-1980. Os nomes de Eggleston e Shore estão na mente do espectador enquanto destacam sua capacidade de se envolver com o mundano de uma forma que transforma o comum em extraordinário. + no original
BRYAN SCHUTMMAT
Uma fotografia muito interessante e marcada por uma mirada única, que fareja no que está abandonado, ou relegado aos "cantos do interessante", um imenso conjunto de possibilidades de pensamento e de composições poéticas. Gosto muito do que vi deste trabalho em particular, intitulado Country Roads. Descubra mais sobre o livro e o autor no link.
ÉDOUARD BOUBAT
Boubat é um de meus fotógrafos favoritos por razões de afeto mesmo. Raramente posso ver uma de suas imagens sem me emocionar, com destaque muito particular para os retratos de crianças – uma de suas fotos bastante famosas, por exemplo, é incrivelmente parecida com minha irmã caçula e uma de minhas filhas, quando crianças. Não é apenas isso, contudo. Há algo em sua mirada, um quê no qual tudo o que poderíamos ser e ainda não fomos como espécie se pronuncia com uma voz quase inaudível. Ele viveu os horrores da guerra e, talvez por isso, tenha sido tocado pelas coisas que Emmanuel Levinas transformou em monumentos filosóficos e éticos. Veja mais imagens de Boubat no Google drive
A BELEZA DÓI
A obsessão pelos modelos estéticos não tem nada de novo e as tecnologias associadas a este desejo, muito menos. Veja +
ASSISTÊNCIA SOCIAL
O tempo da espera, aquele que não se resolve em nada, que não se desdobra em movimento, que não produz acontecimentos... Aguardar, apenas aguardar. É esta a sina dos que estão na fila, à espera do agendamento da cirurgia, da obtenção do remédio de alto custo, do visto humanitário, do emprego "fichado". Esta espera, supostamente marginal, circunstancial, vai ganhando escalas progressivamente maiores, na justa medida em que a abundância se produz para muito poucos, para quase ninguém. Miséria, desesperança e uma riqueza voltada sobre si mesma, não apenas indiferente à sorte dos que estão no seu anverso, mas enojada com eles. Não se vê mais no pobre uma figura crística, um resto teológico que inspira a caridade. São apenas fracassados, já sentenciados por suas vidas sem uso